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11.3.09

Aborto: o caso de Alagoinha

Postado por Giulliana Goiana |

Na semana anterior à data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, uma notícia chocou o Brasil. No município de Alagoinha, Pernambuco, Jaílson José da Silva, de vinte e três anos havia engravidado a sua enteada, uma menina de apenas nove anos, a quem estuprava desde os seis. A menina havia menstruado uma única vez e na primeira ovulação engravidou de gêmeos. No último dia 3, a menina foi internada para a realização de um aborto legal, visto que a lei brasileira prevê o aborto em caso de estupro ou risco de morte para a gestante. O caso da menina se enquadra nas duas condições.

No último dia 5 de março, um novo fato relacionado ao caso provocou polêmica. O Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, declarou que a mãe da menina e os médicos que realizaram o aborto haviam sido excomungados da Igreja Católica. Cabe salientar que o padrasto estuprador da menina não foi excomungado. O bispo argumentou que a Igreja Católica considera o aborto um delito mais grave que o estupro.

A polêmica em torno do assunto suscitou o posicionamento das mais diversas esferas da sociedade. A esse respeito manifestaram-se publicamente o Ministro da Saúde, o Ministro do Meio Ambiente, o Presidente da República, médicos, representantes de movimentos sociais de defesa da mulher, o Vaticano e muitos outros. Em meio a tantas declarações não pude deixar de perceber o silêncio da igreja evangélica diante dos acontecimentos. Não critico esse silêncio, pois em um caso delicado como esse, talvez a atitude mais prudente seja mesmo a de calar-se. Porém, sobre esse assunto, o meu desejo é de falar.

Gostaria de poder dizer aos excomungados que, mesmo que a Igreja Católica os tenha abortado, Cristo a ninguém aborta, mas por meio dele somos adotados como filhos pelo Pai Celeste (Rm 8:10-17). E ao bispo Dom José Cardoso, que o Direito Canônico da Igreja Católica não é a Lei de Deus e que, na Bíblia, o princípio último e norteador das decisões de uma mente cristianizada é o amor. Por amor sou contra o aborto, mas por amor, sou contra a criminalização de quem o pratica nessas condições. Por amor um ser humano deve ser capaz a colocar-se no lugar do outro e entender que uma mãe tem o direito de requerer um procedimento de aborto para salvar a vida de uma filha de nove anos vítima de uma violência hedionda. É o amor que nos permite não julgar, e com isso não sermos julgados.

Diria ainda que o caso da menina de Alagoinha se trata de uma escolha entre vidas. Trata-se da escolha entre salvar a vida quem tem toda uma vida pela frente ou arriscá-la por outras duas vidas que ainda nem chegaram a nascer e que provavelmente não chegarão. A solução desse dilema não cabe a nenhum mero observador, mas apenas a quem o está vivenciando.

Gostaria de poder dizer à menina violentada e à sua mãe, que neste momento de dor elas recorram a Cristo, pois nenhum outro pleiteou a causa da mulher como Ele. Nenhum líder religioso se colocou entre importantes homens da lei e uma mulher adúltera para defendê-la, e isso há quase dois mil anos atrás. Que elas saibam que as mulheres são importantes para Deus e que, a não ser a Bíblia, nenhum outro livro considerado sagrado apresenta mulheres liderando exércitos, salvando nações, profetizando em nome de Deus, administrando propriedades ou aconselhando reis. Nenhuma religião recomenda o mesmo padrão de comportamento sexual para homens e mulheres sem distinção e ensina aos maridos que amem a sua esposa "como Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela”; ou ordena aos maridos que tratem suas esposas com dignidade, como condição para que suas orações sejam ouvidas por Deus.

Em meio a tantas declarações divulgadas pela mídia, uma em especial eu gostaria de responder. Ela foi feita pelo médico que realizou o procedimento, Dr. Olímpio Moraes, que disse o seguinte: “Ainda bem que vivemos num Estado laico e a nossa constituição não é a Bíblia”. Se eu tivesse a oportunidade de lhe responder, eu diria: “Dr. Olímpio, o senhor não sabe o que diz. Se no Brasil fossem aplicados os princípios bíblicos na vida dos homens e das instituições, a mulher seria tratada com dignidade, a discriminação e o preconceito seriam extintos, a violência daria lugar à paz e a excomunhão daria lugar ao amor.”

5 comentários:

Cristão Capixaba disse...

Parabéns, ótima postagem. Abordou a questão delicada do aborto - evitou os possíveis extremos da ética cristã e a partir de uma óptica pessoal acerca do assunto, pautou suas afirmações sobre bases escriturísticas. Gostei mesmo, e olha que sou chato quanto a isso.

Lavrador disse...

esta-se bem na sua sala.
Parabéns pela sobriedade dos seus aposentos!

Unknown disse...

Muito bem colocada a questão da excumunhão, ninguém tem o poder de julgar e conendar os outros cabe ao nosso Deus altissímo essa decisão e a nós, resta a humildade do amor ao próximo.

Pra falar de moda disse...

Adorei o blog... vou frequentar! beijo!

Teresa disse...

Ainda bem que Estado é laico..."

Concordo com a ideia de Estado laico,tem religião demais no mundo. A religião oficial brasilira é a católica, Deus me livre de ver o Papa ou o Bispo de Olinda e Recife mandando aqui.

Giu, parabéns pelo seu blog! Nele você aborda questões polêmicas e importantes da sociedade, muito enriquecedor ler tudo que você escreve...
bjus

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