Sala de Estar

Entre e fique à vontade

6.12.10

Manifesto contra a aprovação da PL122

Postado por Giulliana Goiana |



Silvano Roberto Camargos
srocamargos@hotmail.com


Quanto à chamada Lei da Homofobia, que parte do princípio que toda manifestação contrária à homossexualidade é homofóbica e caracteriza como crime essas manifestações, a Igreja Evangélica do Brasil da qual faço parte, repudia a caracterização da expressão do ensino bíblico sobre a homossexualidade como sendo homofobia, ao mesmo tempo em que repudia qualquer forma de violência contra o ser humano criado à imagem de Deus, o que inclui homossexuais e quaisquer outros cidadãos.


Visto que: (1) a promulgação da nossa Carta Magna, em 1988, já previa direitos e garantias individuais para todos os cidadãos brasileiros; (2) as medidas legais que surgiram visando beneficiar homossexuais, como o reconhecimento da sua união estável, a adoção por homossexuais, o direito patrimonial e a previsão de benefícios por parte do INSS foram tomadas buscando resolver casos concretos sem, contudo, observar o interesse público, o bem comum e a legislação pátria vigente; (3) a liberdade religiosa assegura a todo cidadão brasileiro a exposição de sua fé sem a interferência do Estado, sendo a este vedada a interferência nas formas de culto, na subvenção de quaisquer cultos e ainda na própria opção pela inexistência de fé e culto; (4) a liberdade de expressão, como direito individual e coletivo, corrobora com a mãe das liberdades, a liberdade de consciência, mantendo o Estado eqüidistante das manifestações cúlticas em todas as culturas e expressões religiosas do nosso País; (5) as Escrituras Sagradas, sobre as quais a Igreja Evangélica do Brasil firma suas crenças e práticas, ensinam que Deus criou a humanidade com uma diferenciação sexual (homem e mulher) e com propósitos heterossexuais específicos que envolvem o casamento, a unidade sexual e a procriação; e que Jesus Cristo ratificou esse entendimento ao dizer, “(...). desde o princípio da criação, Deus os fez homem e mulher” (Marcos 10.6); e que os apóstolos de Cristo entendiam que a prática homossexual era pecaminosa e contrária aos planos originais de Deus (Romanos 1.24-27; 1 Coríntios 6.9-11).


Ante ao exposto, por sua doutrina, regra de fé e prática, a Igreja Evangélica do Brasil manifesta-se contra a aprovação da chamada Lei da Homofobia, por entender que ensinar e pregar contra a prática da homossexualidade não é homofobia, por entender que uma lei dessa natureza maximiza direitos a um determinado grupo de cidadãos, ao mesmo tempo em que minimiza, atrofia e falece direitos e princípios já determinados principalmente pela Carta Magna e pela Declaração Universal de Direitos Humanos; e por entender que tal lei interfere diretamente na liberdade e na missão das igrejas de todas as orientações de falarem, pregarem e ensinarem sobre a conduta e o comportamento ético de todos, inclusive dos homossexuais.


Portanto, a Igreja Evangélica do Brasil não pode abrir mão do seu legítimo direito de expressar-se, em público e em privado, sobre todo e qualquer comportamento humano, no cumprimento de sua missão de anunciar o Evangelho, conclamando a todos ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo.


Um grande abraço e que Deus os abençoe.

11.3.09

Aborto: o caso de Alagoinha

Postado por Giulliana Goiana |

Na semana anterior à data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher, uma notícia chocou o Brasil. No município de Alagoinha, Pernambuco, Jaílson José da Silva, de vinte e três anos havia engravidado a sua enteada, uma menina de apenas nove anos, a quem estuprava desde os seis. A menina havia menstruado uma única vez e na primeira ovulação engravidou de gêmeos. No último dia 3, a menina foi internada para a realização de um aborto legal, visto que a lei brasileira prevê o aborto em caso de estupro ou risco de morte para a gestante. O caso da menina se enquadra nas duas condições.

No último dia 5 de março, um novo fato relacionado ao caso provocou polêmica. O Arcebispo de Olinda e Recife, Dom José Cardoso Sobrinho, declarou que a mãe da menina e os médicos que realizaram o aborto haviam sido excomungados da Igreja Católica. Cabe salientar que o padrasto estuprador da menina não foi excomungado. O bispo argumentou que a Igreja Católica considera o aborto um delito mais grave que o estupro.

A polêmica em torno do assunto suscitou o posicionamento das mais diversas esferas da sociedade. A esse respeito manifestaram-se publicamente o Ministro da Saúde, o Ministro do Meio Ambiente, o Presidente da República, médicos, representantes de movimentos sociais de defesa da mulher, o Vaticano e muitos outros. Em meio a tantas declarações não pude deixar de perceber o silêncio da igreja evangélica diante dos acontecimentos. Não critico esse silêncio, pois em um caso delicado como esse, talvez a atitude mais prudente seja mesmo a de calar-se. Porém, sobre esse assunto, o meu desejo é de falar.

Gostaria de poder dizer aos excomungados que, mesmo que a Igreja Católica os tenha abortado, Cristo a ninguém aborta, mas por meio dele somos adotados como filhos pelo Pai Celeste (Rm 8:10-17). E ao bispo Dom José Cardoso, que o Direito Canônico da Igreja Católica não é a Lei de Deus e que, na Bíblia, o princípio último e norteador das decisões de uma mente cristianizada é o amor. Por amor sou contra o aborto, mas por amor, sou contra a criminalização de quem o pratica nessas condições. Por amor um ser humano deve ser capaz a colocar-se no lugar do outro e entender que uma mãe tem o direito de requerer um procedimento de aborto para salvar a vida de uma filha de nove anos vítima de uma violência hedionda. É o amor que nos permite não julgar, e com isso não sermos julgados.

Diria ainda que o caso da menina de Alagoinha se trata de uma escolha entre vidas. Trata-se da escolha entre salvar a vida quem tem toda uma vida pela frente ou arriscá-la por outras duas vidas que ainda nem chegaram a nascer e que provavelmente não chegarão. A solução desse dilema não cabe a nenhum mero observador, mas apenas a quem o está vivenciando.

Gostaria de poder dizer à menina violentada e à sua mãe, que neste momento de dor elas recorram a Cristo, pois nenhum outro pleiteou a causa da mulher como Ele. Nenhum líder religioso se colocou entre importantes homens da lei e uma mulher adúltera para defendê-la, e isso há quase dois mil anos atrás. Que elas saibam que as mulheres são importantes para Deus e que, a não ser a Bíblia, nenhum outro livro considerado sagrado apresenta mulheres liderando exércitos, salvando nações, profetizando em nome de Deus, administrando propriedades ou aconselhando reis. Nenhuma religião recomenda o mesmo padrão de comportamento sexual para homens e mulheres sem distinção e ensina aos maridos que amem a sua esposa "como Cristo amou a Igreja e a si mesmo se entregou por ela”; ou ordena aos maridos que tratem suas esposas com dignidade, como condição para que suas orações sejam ouvidas por Deus.

Em meio a tantas declarações divulgadas pela mídia, uma em especial eu gostaria de responder. Ela foi feita pelo médico que realizou o procedimento, Dr. Olímpio Moraes, que disse o seguinte: “Ainda bem que vivemos num Estado laico e a nossa constituição não é a Bíblia”. Se eu tivesse a oportunidade de lhe responder, eu diria: “Dr. Olímpio, o senhor não sabe o que diz. Se no Brasil fossem aplicados os princípios bíblicos na vida dos homens e das instituições, a mulher seria tratada com dignidade, a discriminação e o preconceito seriam extintos, a violência daria lugar à paz e a excomunhão daria lugar ao amor.”

9.3.09

Adolescentes: o que fazer com eles?

Postado por Giulliana Goiana |

A educação de adolescentes seja na escola, no lar ou na igreja, envolve dificuldades extremamente desafiadoras. O mundo lhes oferece um conjunto de opções perigosas, que se mostram mais atrativas quando associadas à curiosidade e ímpeto característicos da juventude. Além disso, o perfil do jovem tem sofrido grandes mudanças, especialmente nos últimos dez anos. A juventude de hoje é mais informada, mais ativa, exposta a uma série de estímulos que aceleram o pensamento, dificultam a concentração e parecem fomentar uma constante insatisfação.

O modelo tradicional de trabalho com adolescentes na igreja, baseado em eventos, reuniões regulares e atividades recreativas, tem se mostrado muitas vezes ineficaz em mantê-los no Caminho. É muito comum ver adolescentes e jovens se afastarem dele para retornarem apenas depois de adultos. Além disso, em alguns casos, lhes é imposta uma gama de proibições que, na maioria das vezes, não promovem o efeito esperado. Geralmente acabam não contribuindo para o seu amadurecimento, gerando neles a sensação de cerco e frustração, sentimentos altamente eficazes para aguçar a curiosidade e despertar o desejo por aquilo que é proibido.

Para a construção de um modelo mais eficaz é necessário voltar aos princípios bíblicos da liberdade. Liberdade esta que os permite ter critérios para “julgar todas as coisas e reter o que é bom” e a serem guiados pelo Espírito enquanto fazem suas escolhas com alegria. A carga de proibições, que muitas vezes é imposta aos jovens cristãos pela igreja ou pela família, a fim de isolá-los do mundo, em geral não passa de um esforço bem intencionado. Essa prática, além de pouco eficaz é incoerente com princípios bíblicos. Pois como escreveu o apóstolo Paulo aos Colossenses:

“Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, porque, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? Pois que todas estas coisas com o uso, se destroem. Tais coisas, com efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e falsa humildade, e rigor ascético; todavia não têm valor algum contra a sensualidade” (Cl 2:16,17,20-23).

Contribuir para o desenvolvimento e amadurecimento do adolescente cristão requer mais do que a promoção de eventos e reuniões recreativas. É preciso despertar nele a alegria e o amor pelo serviço. O ideal de Deus para a juventude não é o isolamento, mas o envolvimento. É necessário envolvê-lo em ações de impacto social. É preciso aproximá-lo do sofrimento alheio, dar-lhe a oportunidade de sentir-se útil na luta por um ideal e capaz de transformar a realidade à sua volta.

O contexto social atual lhe propõe um estilo de vida consumista, individualista e alienante. É preciso apresentar-lhe uma nova proposta, que desperte nele a cidadania, a responsabilidade social e o compromisso com a ética cristã. Isso só é obtido quando lhe é oferecida a oportunidade de envolver-se com problemas que não se limitem apenas à sua realidade pessoal, à sua individualidade. É necessário fazer com que ele enxergue e se envolva com problemas da coletividade.
Um jovem envolvido em ações de recuperação de viciados e no combate à violência dificilmente se deixará envolver pelas drogas ou pelo crime. Um jovem envolvido no combate à injustiça social dificilmente se deixará envolver por ideais nulos. Não porque lhe foi proibido, mas porque tem condições de fazer uma escolha coerente.

Enquanto insistirmos na preservação de um modelo educacional restritivo, cada vez mais nos frustraremos com os resultados e com o comportamento dos nossos jovens e adolescentes. É muito comum, e até mesmo compreensível, que muitas igrejas, famílias e escolas ainda apresentem resistência a mudanças dessa natureza, pois elas representam na realidade a substituição de um paradigma. Mesmo assim podemos ter esperança, pois aos poucos essas mudanças vão encontrando o seu espaço. Recentemente eu mesma tive a oportunidade de conhecer uma maravilhosa iniciativa nesse sentido. Parabenizo o projeto Plano B (
WWW.planoblog.blogspot.com), da Igreja Presbiteriana de Candeias em Jaboatão dos Guararapes, Pernambuco. O trabalho consegue não apenas ser atrativo, mas envolvente e relevante, e o lema “escolha sob um novo plano” não poderia ser mais adequado.

Que iniciativas como essa se multipliquem para que o coração dos nossos adolescentes inflame-se com o sincero desejo de “ao mestre serem fiéis, nas trevas serem luz, nas lutas serem fortes, servindo ao Senhor Jesus” (paráfrase do moto da UPA – União Presbiteriana de Adolescentes).

19.2.09

A maldita herança do jeitinho

Postado por Giulliana Goiana |

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da hora, e ter vergonha de ser honesto”. (Rui Barbosa)


Recentemente o BPI (Bribe Payers Index) divulgou o resultado de um estudo que apontou que os empresários brasileiros estão entre os mais corruptos do mundo. O Brasil está entre os países mais suscetíveis ao suborno nas transações comerciais internacionais, obtendo nota 7,4 no Índice de Pagadores de Suborno em 2008, o que lhe garantiu o 17º lugar do ranking mundial. A pesquisa revelou ainda que na América Latina 87% dos empresários acreditam que a ação dos governos na luta contra a corrupção é ineficaz, muito ineficaz ou não existe.

Essa é só mais uma, entre tantas notícias, que nos lembra um dos traços mais marcantes da identidade brasileira: o famoso “Jeitinho”, definido por Lourenço Stelio Rega (Dando um jeito no Jeitinho) como “a imposição do conveniente sobre o certo”, ou seja, uma forma malandra de se resolver um problema, ainda que sob a forma de burla de alguma norma preestabelecida. Apesar de nem sempre manifestar-se de forma negativa, o Jeitinho é a força motriz de um dos maiores problemas da política brasileira: a corrupção.

Cabe lembrar que a corrupção no Brasil não é exclusividade dos altos escalões do poder. Ela está muito próxima de nós. Está na atitude do contribuinte, ao omitir informações na sua declaração de imposto de renda para receber um valor maior de restituição; está no trânsito, quando o motorista paga suborno ao policial rodoviário para não ser penalizado; está na escola, quando o aluno entrega um trabalho copiado da Internet ao professor, ou mesmo quando copia uma resposta da prova do colega para ser aprovado; está no ônibus, quando o passageiro não ultrapassa a roleta e em troca coloca um valor menor que o da passagem no bolso do cobrador. Se a sua integridade foi vendida por tão pouco, o que o leva a crer que, se estivesse no lugar do político, não a venderia por alguns milhões de reais?

No Brasil existe a tendência de só se considerar o ato ilícito como corrupção quando ele é praticado nos altos escalões do poder público. O discurso de indignação da sociedade brasileira com a corrupção da máquina política tem um “q” de hipocrisia e esconde a sua complacência com esse tipo de atitude. A corrupção permeia as decisões cotidianas dos brasileiros, e não é apenas tolerada, mas louvada pela sua consciência elástica, que considera a “esperteza” uma virtude, enquanto rotula o íntegro de “otário”.

Lívia Barbosa (O Jeitinho Brasileiro) se utiliza de argumentos weberianos (A Ética Protestante e o espírito do Capitalismo) para sugerir que essa ética tem também origens religiosas. Para ela as razões estão na plasticidade do catolicismo, ao contrário da rigidez protestante. O protestantismo exige coerência nos valores aplicados em todas as áreas da vida, resultando numa prática social mais uniforme. Já no catolicismo, a absolvição pela penitência abranda a vivência dos fiéis, não havendo necessidade de uma coerência de condutas.

Não ignoro o fato de que, no Brasil, para ser honesto, é preciso pagar um preço muito alto. A carga tributária imposta aos brasileiros é um fardo muito pesado para se carregar, o descaso das autoridades e a impunidade causam mesmo indignação. Mas Regala afirma que existe um círculo vicioso de corrupção no Brasil no qual o Jeitinho é o eixo motor. Em primeiro lugar, há um descaso das autoridades públicas em relação às necessidades do povo. Esse descaso alimenta o jeitinho, pois o povo sente-se no direito de transgredir as normas, já que os impostos são pagos e o governo não os aplica de forma correta. Para não ser punido pela transgressão, o cidadão paga suborno. Esse procedimento protege o transgressor e estimula o corrupto a continuar na corrupção. O pagamento do suborno gera a impunidade que dá continuidade ao descaso, fechando assim o círculo.

A corrupção no Brasil, portanto, é um problema que está longe de ser resolvido, pois ao que parece, esse país só terá jeito quando esse ciclo for quebrado; quando os brasileiros decidirem trocar o discurso hipócrita pela prática coerente e admitirem que as raízes da corrupção estão nos valores que eles próprios transmitem a seus filhos. Até lá, sou obrigada a concordar com Charles de Gaulle: “o Brasil não é um país sério”.

6.2.09

"Minha raça é humana"

Postado por Giulliana Goiana |

Sobre a proposta do sistema de cotas nas universidades públicas brasileiras (PLC 180/08)

A Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal discutirá, na reabertura dos trabalhos legislativos, o projeto de lei que obriga as instituições federais de educação superior, vinculadas ao Ministério da Educação, a reservarem o mínimo de 50% das vagas dos vestibulares dos cursos de graduação para o ingresso de estudantes que tenham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas (PLC 180/08).

O projeto é de autoria da deputada Nice Lobão (DEM-MA), e propõe que essas vagas sejam preenchidas por pessoas que se autodeclararem negras, pardas ou indígenas, no mínimo em proporção igual à quantidade de negros, pardos e indígenas existente na unidade da Federação onde estiver localizada a instituição de ensino.

O polêmico projeto já foi tema de audiência pública conjunta na CCJ, em dezembro de 2008, onde foi defendido por representantes do Movimento dos Sem-Universidade (MSU), Sérgio José Custódio; da Universidade de Brasília (UnB), Deise Benedito; e da entidade Educação e Cidadania de Afrodescendentes e Carentes (Educafro), David Santos. Seus defensores acreditam que a proposta irá beneficiar pobres, negros e índios, contribuindo para a redução da desigualdade social. Alguns argumentam que a nação tem uma dívida histórica com os negros, pardos e indígenas, o que justificaria a aprovação da proposta.

Já que se falou em dívida, eu pergunto: afinal, quem é o credor e quem é o devedor? Pois quem é o negro e quem é o branco no Brasil? O sistema de cotas seria uma medida apenas preconceituosa, não fosse o fato de sermos uma nação mestiça, o que faz dele uma proposta precipitada e descabida.

Nas últimas décadas a ciência fez à humanidade o grande favor de desacreditar o mito da existência de raças entre seres humanos. Agora a nobre deputada Nice Leão propõe um retrocesso, quer que acreditemos que raça não apenas existe, como deve ser declarada. Pois bem, eu me recuso a fazer esse tipo de declaração, ou como fez Albert Einstein, declaro que “minha raça é humana”.

O que exclui alguém da universidade pública não é a cor da sua pele, mas um problema que está longe de ser solucionado: a má qualidade da escola pública. Nosso problema não é a “exclusão racial”. Nosso problema é a exclusão educacional. O pobre, em sua maioria pessoas que se declaram negras ou pardas, esse é o excluído, por não ter acesso a uma educação de qualidade que o prepare para ingressar na universidade. E quando falo em preparo de ingressar na universidade não estou pensando apenas em preparo para passar no vestibular. O estudante do ensino superior precisa ter uma base, construída no ensino médio e fundamental, como requisito para o seu aprendizado na universidade.

Longe de favorecer a inclusão social, a aprovação da proposta seria na realidade um boicote à qualidade do ensino superior público no Brasil e contribui para a formação de profissionais desqualificados, a semelhança do que acontece em boa parte das nossas faculdades particulares.

O sistema de cotas é uma proposta de acesso, não de inclusão. Abre-se a porta da universidade para quem não tem condições acadêmicas para o aprendizado. É concedido o acesso à universidade, mas continua a ser negado o direito à educação de qualidade. E mais uma vez no Brasil, um problema é mascarado, não resolvido. Isso porque solucionar o problema da má qualidade de ensino das escolas públicas é mais difícil, quase tão difícil quanto dizer quem é branco ou negro neste país. Mas quando o assunto é políticas públicas, precisamos lembrar que a alternativa aparentemente mais fácil quase sempre é uma idéia idiota.

29.1.09

O primeiro post

Postado por Giulliana Goiana |

Este é o meu primeiro post neste blog. Foi escolhido com carinho. Se não parece nada especial para o leitor, me perdoe. Mas pensei, se o blog é meu, devo publicar algo que pareça especial para mim. Decidi então apresentar-lhe minha filha Sofia. Ela está com 9 meses de idade. Seu nome significa sabedoria, conhecimento.

Minha filha tem me ensinado muito. Tenho aprendido mais com ela do que ela comigo. A maternidade tem dessas coisas. Quando sonhamos com ela, nos preocupamos com quanto temos a ensinar, mas ao vivê-la, com quanto temos a aprender. E entre tantas lições posso destacar uma especial. Com Sofia tenho aprendido a contemplar, a observar as coisas e pessoas sob a perspectiva de um aprendiz, e assim, redescobrir o mundo à minha volta.

Sofia ama aprender. Posso perceber a alegria que sente ao descobrir algo novo. Vejo como ela se alegra com coisas aparentemente simples ou pequenas. Então me lembro de que não é preciso muito para ser feliz. Basta saber enxergar a beleza e o valor do mundo que nos cerca, dos momentos que vivemos e das pessoas que amamos.

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